segunda-feira, 6 de agosto de 2007

9. A Guerra do Yom Kippur


MITO
"Israel foi o responsável pela guerra do Yom Kippur".

FATO
Em 6 de outubro de 1973 – em pleno Yom Kippur, o dia mais sagrado do
calendário judaico – Egito e Síria iniciaram um ataque-surpresa coordenado
contra Israel. Os árabes, em quantidade equivalente ao total de forças da
Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Europa, atacaram as
fronteiras de Israel.1 Nas Colinas de Golã, 180 tanques israelenses enfrentaram
uma investida de 1.400 tanques sírios. Ao longo do Canal de Suez, menos de
500 defensores israelenses foram atacados por 80 mil egípcios.

Jogado na defensiva durante os primeiros dois dias de combate, Israel mobilizou
seus reservistas, expulsou os invasores e levou a guerra para o interior da
Síria e do Egito. Os países árabes foram rapidamente reabastecidos por mar e
ar pela União Soviética, que rejeitou os esforços dos Estados Unidos por um
cessar-fogo imediato. Como resultado, os EUA deram início, com atraso, à
sua própria ponte aérea até Israel. Duas semanas depois, o Egito foi salvo de
uma derrota desastrosa pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que
parou totalmente seus trabalhos enquanto a maré estava a favor dos árabes.

A União Soviética não demonstrou interesse em iniciar esforços de pacificação
quando parecia que os árabes poderiam vencer. O mesmo pode ser dito do
secretário-geral das Nações Unidas, Kurt Waldheim. Em 22 de outubro, o
Conselho de Segurança adotou a Resolução 338, que pedia que "todas as
partes do combate corrente cessem todo ataque e encerrem imediatamente
toda atividade militar". A votação ocorreu no dia em que as forças israelenses
isolaram o III exército egípcio e estavam em posição de destruí-lo.2

Apesar do absoluto sucesso das forças de defesa de Israel no campo de
batalha, a guerra foi considerada um fracasso diplomático e militar. No total,
2.688 soldados israelenses foram mortos.


MITO
"O presidente do Egito, Anuar Sadat, concordou com as
propostas de paz americanas e não queria a guerra".

FATO
Em 1971, o presidente egípcio Anuar Sadat levantou a possibilidade de assinar
um acordo com Israel desde que todos os territórios ocupados fossem
devolvidos pelos israelenses. Contudo, não se avançou em direção à paz.
Assim, no ano seguinte, Sadat disse que a guerra era inevitável e que estava

preparado para sacrificar um milhão de soldados num confronto com Israel.3
Sua ameaça não se materializou naquele ano.

Durante 1972 e boa parte de 1973, Sadat ameaçou entrar em guerra a menos
que os EUA forçassem Israel a aceitar sua interpretação da Resolução 242:
retirada total dos territórios conquistados em 1967. Simultaneamente, o
líder egípcio levou adiante uma ofensiva diplomática entre os países europeus
e africanos a fim de obter apoio para sua causa. Ele apelou para que os
soviéticos pressionassem os EUA e fornecessem ao Egito mais armas ofensivas
para cruzar o Canal de Suez. A União Soviética estava mais interessada em
manter a aparência de détente (entendimento) com os Estados Unidos do
que num confronto no Oriente Médio e, por esse motivo, rejeitou os pedidos
de Sadat, que em resposta expulsou 20 mil assessores soviéticos do Egito.

Numa entrevista em abril de 1973, Sadat advertiu novamente que moveria
guerra contra Israel.4 No entanto, já havia feito a mesma ameaça em 1971
e 1972, e a maioria dos observadores permaneceu cética.

Os Estados Unidos concordaram com a opinião de Israel de que o Egito
deveria se envolver em negociações diretas. A trégua patrocinada pelos EUA
já durava três anos e o secretário de Estado, Henry Kissinger, havia aberto
nas Nações Unidas mais um diálogo em favor da paz. Praticamente todos
acreditavam que a perspectiva de uma nova guerra era remota.

Sadat reagiu acidamente à iniciativa de Kissinger:


"Os Estados Unidos ainda estão sob pressão sionista. As lentes
que estão usando sobre os olhos são inteiramente sionistas,
completamente cegas a tudo, exceto ao desejo de Israel. Não
aceitamos isso".5



MITO
"Egito e Síria foram os únicos países
árabes que participaram da guerra de 1973".
FATO
Pelo menos nove países árabes, entre eles quatro nações distantes do Oriente
Médio, colaboraram ativamente no esforço de guerra egípcio-sírio. Alguns
meses antes da Guerra do Yom Kippur, o Iraque transferiu um esquadrão de
caças Hunter para o Egito. Durante a guerra, uma divisão iraquiana com 18 mil
homens e muitas centenas de tanques foi instalada no Golã central e participou
no ataque de 16 de outubro contra posições israelenses.6
Os caças Mig iraquianos passaram a operar sobre as Colinas de Golã a partir de 8
de outubro, terceiro dia da guerra. Além de apoio financeiro, Arábia Saudita e
Kuwait enviaram homens à frente de batalha. Uma brigada saudita com três mil
homens foi despachada para a Síria, onde participou dos ataques nas proximidades
de Damasco. Violando a proibição de Paris de transferir armamentos de fabricação
francesa, a Líbia também enviou aviões de combate Mirage para o Egito (de
1971 a 1973, o presidente líbio, Muamar Kadaffi, doou ao Cairo mais de US$ 1
bilhão em ajuda para rearmar o Egito e pagar os soviéticos pelas armas entregues).7

"Todos os países devem declarar guerra contra os sionistas, que
estão ali para destruir todas as organizações humanas, destruir a
civilização e o trabalho que as pessoas de bem tentam realizar".
- Rei Faisal da Arábia Saudita8

Outros países da África do Norte responderam ao chamado de árabes e
soviéticos para ajudar os países que se encontravam na linha de frente. A
Argélia enviou três esquadrões aéreos de caças e bombardeiros, uma brigada
blindada e 150 tanques. Mil a dois mil soldados tunisianos estavam no Delta
do Nilo. O Sudão estacionou 3.500 soldados no sul do Egito e o Marrocos
enviou três brigadas às linhas de frente, inclusive 2.500 homens para a Síria.
As unidades de radar libanesas foram usadas pelas forças de defesa aérea
sírias. O Líbano também permitiu que terroristas palestinos bombardeassem
assentamentos civis israelenses a partir de seu território. Os palestinos
lutaram na Frente Sul junto a egípcios e kuwaitianos.9
O participante menos entusiasta dos combates de outubro foi provavelmente
o rei Hussein, da Jordânia, que aparentemente foi mantido desinformado
dos planos de guerra egípcios e sírios. Contudo, enviou duas de suas melhores
unidades – a 40ª e a 60ª Brigadas Blindadas – à Síria. Esta força ficou no setor
sul, defendendo a rota principal Amã-Damasco e atacando posições israelenses
ao longo da rodovia Kuneitra-Sassa em 16 de outubro. Três baterias de
artilharia jordanianas também participaram da invasão com cem tanques.10

"Em discurso à Assembléia Nacional de seu país, o ministro da
Defesa da Síria, Mustafá Tlas, fez o seguinte e assombroso relato
em dezembro de 1973:

‘Há o caso notável de um recruta de Alepo que assassinou, sozinho,
28 soldados judeus, abatendo-os como cordeiros. Todos os seus
camaradas em armas foram testemunhas. Ele sacrificou três deles
com um machado e os decapitou... Lutou cara a cara com outro
deles e, descendo seu machado, manejou-o de modo a cortar seu
pescoço e devorar sua carne diante de seus camaradas. Este é
um caso especial. Eu simplesmente preciso destacar este homem
a fim de condecorá-lo com a Medalha da República. Irei conceder
esta medalha a todo soldado que tenha êxito em matar 28 judeus,
e irei recompensar sua bravura com apreço e honra’." 11

MITO
"Israel maltratou soldados árabes
capturados durante a guerra de 1973".

FATO
Inúmeros observadores relataram que o tratamento de Israel aos soldados
capturados foi irrepreensível. Hugh Baker, representante da Anistia
Internacional, declarou: "Eles estão sendo bem tratados (...) e parecem estar
recebendo a melhor assistência médica possível".12
Logo após a sua libertação, o coronel sírio Atnon El-Kodar se queixou de ter
sido maltratado por médicos israelenses, acusando-os de terem lhe amputado
uma perna desnecessariamente. Um repórter americano, Ed de Fontaine,
que conhecera Kodar num hospital israelense, achou que o coronel devia
"ter uma memória muito curta quanto ao que havia sido feito para salvar a
sua vida... Ele me disse que devia sua vida a seu médico".13
Em contrapartida, soldados israelenses capturados por tropas sírias e egípcias
foram maltratados. Após a sua rendição, dezenas de PDGs (prisioneiros de
guerra) israelenses foram assassinados e outros torturados, em violação à
Convenção de Genebra para Prisioneiros de Guerra.
Conforme um relatório apresentado à Cruz Vermelha Internacional pelo
governo israelense em 18 de dezembro de 1973, foram descobertos cadáveres
de soldados nas Colinas de Golã cujas mãos e pernas haviam sido atadas e os
olhos arrancados. Haviam sido executados à queima-roupa.
Na frente egípcia, segundo um relatório apresentado à Cruz Vermelha em 9
de dezembro de 1973, o tratamento aos soldados israelenses não foi melhor.
Soldados rendidos foram agredidos, submetidos a espancamentos, estupros,
queimaduras e fome – e muitos foram executados.
Após a guerra, a Síria se recusou por meses a fornecer listas de prisioneiros
de guerra a Israel, à Cruz Vermelha ou ao secretário de Estado dos EUA,
Henry Kissinger.
O London Sunday Times publicou que funcionários sírios entregaram
prisioneiros de guerra israelenses a equipes militares de interrogatório
soviéticas. "Os interrogadores... têm empregado técnicas médicas e outras
para quebrar a resistência dos israelenses", disse o Times.14

MITO
"Os israelenses destruíram Kuneitra
antes de se retirar em junho de 1974".
FATO
Kuneitra, uma pequena cidade no fronteira israelense-síria, não foi destruída
por Israel após a guerra. A cidade foi gravemente atingida nos conflitos de
1967 e de 1973. Na Guerra de Yom Kippur, foi bombardeada e capturada por
tropas sírias, retomada pelos israelenses e então defendida sob intensos
contra-ataques sírios. Os tanques circulavam pela cidade entre e pelos
edifícios. Kuneitra também sofreu danos devidos a 81 dias de duelos de
artilharia que precederam o encerramento das hostilidades.
A posição estratégica de Kuneitra, próximo à fronteira israelense, mostrouse
conveniente para as instalações do exército sírio, incluídos os centros de
comando e controle para toda a área da linha de frente. A Síria concentrou
pelo menos metade de seu exército nessa região, da qual Kuneitra era a
principal cidade. Ali foram construídas instalações militares, quartéis, centros
de apoio, depósitos de combustível e munição. Como resultado, a fonte de
subsistência dos habitantes mudou da primitiva agricultura camponesa para
o serviço no exército.
Muito antes da alegada destruição da cidade por Israel, o London Times
publicou que Kuneitra, que já "teve por volta de 17 mil habitantes, além de
uma guarnição do exército sírio (...) está em ruínas e deserta após sete anos
de guerra e abandono. Parece uma cidade do velho-oeste sacudida por um
terremoto (...) Quase todos os edifícios estão seriamente danificados e os
quarteirões entraram em colapso..."15

Notas
1
Chaim Herzog. The Arab Israeli Wars. New York: Random House, 1984, pág. 230.
2 Herzog. pág. 280.
3 Howard Sachar. A History of Israel: From the Rise of Zionism to Our Time. New York:
Alfred A. Knopf, 1979, pág. 747.
4 Newsweek (9 de abril de 1973).
5 Rádio Cairo (28 de setembro de 1973).
6 Trevor Dupuy. Elusive Victory: The Arab-Israeli Wars, 1947-1974. New York: Harper
& Row, 1978, pág. 462.
7 Dupuy, pág. 376; Herzog, pág. 278; Nadav Safran. Israel: The Embattled Ally
Massachusetts: Harvard University Press, 1981, pág. 499.
8 Beirut Daily Star (17 de novembro de 1972).
9 Herzog, pág. 278, 285, 293; Dupuy, pág. 534.
10 Herzog, pág. 300.
11 Official Gazette of Syria (11 de julho de 1974).
12 Jerusalem Report Post (4 de janeiro de 1974).
13 Group W Radio (11 de junho de 1974).
14 London Times (19 de maio de 1974).
15 London Times (5 de maio de 1974).

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom. Objetivo.